quinta-feira, 25 de junho de 2009

Vês! Ninguém assistiu ao formidável

Enterro de tua última quimera.

Somente a Ingratidão - esta pantera -

Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!

O Homem, que, nesta terra miserável,

Mora, entre feras, sente inevitável

Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!

O beijo, amigo, é a véspera do escarro,

A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,

Apedreja essa mão vil que te afaga,

Escarra nessa boca que te beija!

O poeta Augusto dos Anjos sabia muito bem expressar as suas angústias emotivas. Esse poema revela uma habilidade incrível de poetizar os desacertos da vida e mesclar o belo da poesia e das rimas com um vocabulário podre. Mas quem de nós não se sente ,em algum momento, como este poeta e exagera na linguagem a fim de externar o que sente? E quem disse que fazer do feio algo belo é proibido. "Apedreja essa mão vil que te afaga, escarra nessa boca que te beija."

Um comentário:

  1. Tenho um poema que se chama "Antíteses", não é tão "podre", mas lembra-me um pouco Augusto. Breve postarei e gostaria que lêsses, Nilton! Té mais!

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